Este espaço é destinado à reflexões sobre Tarô, Oráculos e Espiritualidade.

"Uma viagem pelas cartas do Tarô, é uma viagem às nossas próprias profundezas." Sallie Nichols em Jung e o Tarô


sábado, 19 de outubro de 2013

Oráculos e Oraculistas: pontes para o desconhecido



"Aconselha-te com os oráculos, mas siga teu próprio coração..." - Píramo e Tisbe.


Nos últimos tempos as artes divinatórias têm ganhado bastante espaço no solo brasileiro, principalmente no que se refere à cartas - seja Tarô, Baralho Cigano (Lenormand) ou simplesmente as cartas comuns de baralhos de jogo.

Oráculos existem há milhares de anos entre povos de diversas etnias e culturas diferentes. Na maior parte dos povos que deram origem às grandes civilizações encontramos a presença de alguma forma de oráculo.

E do que era (é) feito um oráculo?

Existiram, e existem ainda, muitas formas de oráculo, desde pedras, conchas, até moedas, cartas, água, vela, borra de café, enfim, inúmeros oráculos.

A questão é: para que uma consulta ao oráculo? o que me levaria a buscar a orientação de um oraculista?

Aqui precisamos entender a função de um oráculo, senão toda nossa busca será vazia, apenas especulação imaginativa.

Vamos, para isso, voltar no tempo...

Na antiguidade, quando as pessoas buscavam o conselho do oráculo, elas tinham em mente que estavam na presença de alguém muito importante, de muito respeito, pois o oraculista era aquele fazia a intermediação entre ele (o buscador) e Deus. Sim, Deus, ou os deuses – principalmente os do destino.

A ninguém era permitido “se aproximar” diretamente dos deuses, mas somente aqueles que alcançavam certo nível de ética e sabedoria. A estes sim lhes eram revelados os segredos. Eram, por assim dizer, sábios, lúcidos. Os oraculistas eram extremamente respeitados, e o que fosse revelado numa consulta era acatado de pronto.

Em algumas culturas existiram oráculos que apenas as mulheres tinham acesso, como pro exemplo as runas – oráculo originário dos povos nórdicos e que nos chegou através dos vikings. Somente a mulher nesta sociedade tinha o direito de “jogar runas”, isto fazia parte das funções femininas nestas tribos.

Com o passar dos séculos outras artes divinatórias foram sendo criadas (ou reveladas), formando outros tipos de sistemas oraculares. Embora, as antigas artes continuaram a ser praticadas, mesmo com o domínio cristão na Europa durante todo o período medieval – há que se levar em consideração que famílias e grupos inteiros de pessoas não abandonaram muitas de suas práticas consideradas pagãs, o próprio cristianismo se mesclou com várias destas culturas, aliás foi o sintetizador entre estas e a cultura romana.

Hoje, quando pensamos em oráculo ou artes divinatórias é comum imediatamente pensarmos no Tarô. O Tarô como oráculo se disseminou principalmente durante os séculos XIX e XX. Ninguém sabe ao certo sua origem, muitas especulações pouco prováveis, o que temos são documentos do século XIV que citam jogos de cartas que eram jogados (não de forma oracular).

Tanto Tarô como Quiromancia (leitura da mão) caminham juntos, e muitas veze são associados, graças ao povo cigano, famoso por suas cartomantes e quiromantes. Aqui é bom lembrar que o Tarô, embora faça parte das tradições ciganas, não foi criado ou revelado por este povo, erro comum que muitos cometem.

Infelizmente estas e outras artes divinatórias acabaram assumindo uma forma pejorativa, visto o número expressivo de charlatães que encontramos “pelas estradas” e que brincam com a boa fé das pessoas.

Porém, precisamos diferir as coisas: se você foi até um oraculista se consultar, com toda curiosidade e ansiedade do mundo e nada do que ele “previu” aconteceu, não pense que o problema é o Tarô, as cartas, as runas, ou os búzios, ou a borra de café, enfim, e que tudo isso é enganação.

Separe o executor do objeto. O taromante não é o Tarô. Assim, se houve alguma fraude não foi do Tarô, mas pode ter sido do taromante. O pai-de-santo não é o búzio. A astróloga não é o sistema solar, nem os signos.

Os oráculos funcionam sim, como forma de autoconhecimento. Os oraculistas estão aí para lhe fornecer um pequeno mapa que auxiliará no seu crescimento, e sim, lhe auxiliará no seu percurso. Fica muito mais fácil caminharmos quando as luzes estão acesas e nossos olhos estão abertos, mesmo que a luz esteja fraca, ao menos temos uma noção.

Quando o oraculista faz previsões, primeiro que nenhum oráculo que fale do estado da pessoa mostra acontecimentos num prazo muito maior que seis meses; segundo, ao oraculista são revelados fragmentos de uma realidade porvir, não há uma olhada panorâmica completa, mesmo porque, o oráculo mostra aquilo que mais está preocupando o consulente naquele momento.

Sendo assim, nós os oraculistas estamos aqui para sermos pontes. Ponte entre você e você mesmo. Entre você e o Ser que há em você. Entre você e aquilo que está porvir. Entre você e o desconhecido – a verdadeira realidade.

Aquele que não cumpre este papel, ou algo semelhante, não pode ser chamado de oraculista.

E por fim, ouça sua voz interior, ela certamente tem muito a revelar, basta silenciar e ouvir.


Gratidão!

Referências Bibliográficas

Hilário Franco Junior. Estruturas Culturais. Idade Média, o nascimento do Ocidente. Brasiliense.
________________. Estruturas Mentais. Idade Média, o nascimento do Ocidente. Brasiliense.
Ligia Amaral Lima. Iniciação às Runas. Nova Era.
Nei Naiff. Curso Completo de Tarô. Nova Era.
Veet Pramad. Curso de Tarô e seu uso Terapêutico. Madras editora.

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